terça-feira, 26 de janeiro de 2010

é pum, é pé, é um bichinho

dizem que a partir do quarto mês já dá pra sentir o bichinho lombrigando na barriga. Afinal, a essa altura, ele já deve estar com quase vinte centímetros (!!!). Daí por mais que a barriga cresça, o danadinho é muito mais rápido. Resultado: menos espaço pras suas cambalhotas, e mais soquinhos, chutinhos e cabeçadas na mamãe molenga que não alcança seu ritmo.

Fiquei meio assim nesses dias de quarto mês por não sentir nada, só umas pontadas na base barriga. UMAS PONTADAS NA BASE DA BARRIGA! Não, não eram gases, eram as estripulias do bichinho. Dar-me conta, ainda que tardiamente, dessa obviedade ululante me deixou assim, maravilhada, e achando o mundo pequeno também pras minhas cambalhotas mentais.

sábado, 23 de janeiro de 2010

umbigo

Esta é a única fase da vida, acho, em que você é encorajada a viver em torno do seu umbigo. Isso porque o umbigo deixa de ser seu e vira o umbigo do mundo. Esqueça, sua barriga agora é um aeroporto de beijinhos, afagos, e alvo de toda sorte de conjecturas. Aquilo que sempre foi uma parte tão íntima sua, tornou-se área pública. Uma espécie de play de diversão, tamanha é a alegria das pessoas ao deparar-se com ela. Acostume-se, me aconselhavam as mais experientes. Daí invariavelmente vc vai se acostumando. O tempo trabalha sozinho, em outras grandezas.

Sua barriga que ainda nem existe já é maior que vc, torna-se o seu rosto. E vc sai de foco. É uma passagem meio vertiginosa, e as mais desavisadas tremem um pouco com a turbulência. Não se torna mãe no momento da fecundação. Dói um pouco vê-se perdida em si mesma, essa esquizofrenia de desumbigar-se no próprio umbigo. E não adianta aonde vc esteja, gravidez é mesmo uma experiência muito solitária. Mas aí você volta a si, e descobre que a trivialidade disso tudo é de uma beleza tremenda. E que quando se alcança o tempo, sem saber bem como, você é capaz de ver-se tão mais bonita, mais cheia de vida, e, acima de tudo, mais forte.

sábado, 16 de janeiro de 2010

sexo dos anjos


Eu juro que não queria saber. Me dava pânico imaginar um quarto todo cor-de-rosa ou um enxoval com motivos de carrinho. Queria um bebê sem gênero, apesar de sustentar uma certeza anunciada de que seria um menino. Queria a surpresa do parto, à moda antiga. Que o mundo se viaresse em outras cores, queria um bebê bem colorido. Daí veio o pai, com seus argumentos de pai. Que ele queria muito saber, porque já que ele não podia sentir a criança, pelo menos podia saber dela. Assim ela se tornaria para ele mais próxima, mais real. Com uma imagem talvez menos colorida, mas com certeza menos borrada. Bati o pé e disse que eu sou a mãe, que quem decide sou eu. Munida de toda minha autoridade, fomos ao ultrassom e disparei minha palavra final: "qual é o sexo, doutora?" No meio de borrões, ela decifrava o sexo dos anjos. No meio de algo que mais parecia um teste de rorschach, ela apontava um pintinho: "É menino, pode mandar pintar o quarto de azul". Saímos de lá com o sorriso rasgando a boca.

Depois do natal e antes do Natal.


barriga de chop

Tá, eu sei. Faz tempo. Mas é que a barriga não espera inspiração e ela já vai avançando mundos. Quem não me conhecia há alguns meses atrás talvez ainda nem perceba, ou talvez tenha vergonha de perguntar sobre a gravidez, com medo da respostar ser negativa. Já pensou? Pois é, ainda não posso usar os assentos prefenciais do metrô, furar a fila de bancos, etc. Ninguém sede assento pra pessoas que aparentam barriguinha de chops-e-pastel-de-quem-exagerou-no-natal. Dái vou seguindo pelo mundo com meu segredo guardado na barriga: uma pequena revoluçãozinha dando cambalhotas. Mas se aos olhos do mundo minha barriga parece tímida, pra mim ela já tem o tamanho do mundo. Que não é nada pequeno, por sinal. Cheínho, prenhe, de possibilidades.