sábado, 24 de abril de 2010

culpa

Enquanto que para Adão a punição pelo pecado (aliás, super original) foi ter que ganhar o pão com o suor do rosto, para a pobre da Eva restou a subordinação ao marido e as dores do parto. Deus esqueceu, talvez por julgar obvio o bastante, de avisar a Eva que "a sua penitência maior será a culpa", devia estar lá em Gênesis (3: 1-24). Rapidinho começa-se a perceber que ser mãe - mais do que adorar cores pasteis, assumir um tom angelical e se emocionar ao ver roupinhas de bebê - é sentir culpa. Culpa por comer pouco, culpa por comer muito, culpa por não engordar, culpa por engordar demais, culpa do nome dele ser inadequado, culpa por ele ainda não ter nome, culpa por tomar a vacina, culpa por não tomar a vacina, culpa pelo imprevisto, culpa por não se pré-ocu(l)par. Se não nos des-ocu(l)par-mos, pode crer, serão 38 semanas dessa sensação (enlouquecedora) de duplo vínculo. Os mesmos que distribuem sorrisos e gentilezas gratuitas na rua serão os primeiros a praguejar-lhe e torcer-lhe o nariz para qualquer fuga ao script de boa mãe. Enclausure-se na meiguice: são saia, são trepe, não beba e, se possível, flutue no espaço para não se contaminar dele. É como se nos encorajassem a uma disputa insana com o bebê: ou ele ou você. Ou o parto ou o nascimento. E daí subitamente você se flagra nesses pensamentos e começa a sentir culpa.E talvez até comece e acreditar em Deus, só pra pedir des-culpa.

Mas aí uma hora você começa a entender que seu barrigão já é algo suficientemente grandioso para se carregar e resolve deixar o caminhão de culpa de lado, e que o inferno que o carregue. Que não há você e o bebê, o que existe é um você-bebê, um afeto super-bonder que tem garantia pós-parto. E que o negócio se resolve entre vocês, cotidianamente. E que isso sim é estar no paraíso.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

os oín de meu amor



não tem os olhos do pai?

gentileza

Ele já tem pouco mais de um quilo e eu não paro de pensar em bolos de chocolate.
Já começo a sentir saudades dele dentro de mim, me provocando desejos. Desejos de mais amor no mundo, um mundo mais bonito. Porque quem já experimentou isso de ser grávida, de carregar existencias na barriga, sabe do que estou falando. De ser a pessoa mais bonita mesmo engordando 12 quilos, de ter o cabelo mais incrível mesmo no maior calor da face da terra, de ter tantos sorrisos gratúitos na rua mesmo no seu dia récorde de mau humor. Enfim, de repente o mundo fica como tinha de ser: prenhe de gentilezas.

novidade



Ian, meu filhote, Arn e Eme. Primeiro encontro dos primos que em muito breve estarão constrindo piscinas de areia nas praias de João Pessoa.

segunda-feira, 29 de março de 2010

como criar para mim um corpo sem orgãos?

quinta-feira, 25 de março de 2010

terça-feira, 16 de março de 2010

co-existências

Eu bem que desconfiava que eu iria desaparecer na medida em que minha barriga fosse crescendo. Sumiço virtual pra dar conta da expansão real. Em meio a minha batalha diária entre linhas e capítulos dissertacionais, vou vencendo, sem me dar muita conta, centímetro a centímetro de barriga. Mas mesmo diante de toda minha negligência materna - dele ainda não ter nome, de eu pouco conversar com ele (ele já escuta e distingue tons graves dos agudos!) - , é impressionante como ele está lá comigo o tempo inteiro. Não é bem uma escolha estar ou não com ele: estamos misturados. Encarnados. Acordamos juntos, comemos juntos, fazemos hidroginástica, yoga, pegamos metrô, sorrimos, choramos. Uma substância, um mesmo sangue, uma mesma carne. E nós ainda nem nos conhecemos...

dez centímetros





Somado aos números do post anterior, esse último mês minha barriga me presenteou com dez centímetros a mais, e, segundo minha ginecologista, meu bebê "está com o tamanho um pouco acima da média". Com um sorriso um tanto sádico completou com um "e você que ainda quer um parto normal..." Sorri junto na hora meio que pra não perder a amiga, mas depois da informação virar assombração na minha cabeça, foia médica quem perdeu a paciente: troquei de ginecologista, ou G.O., para as íntimas.

segunda-feira, 1 de março de 2010

dez quilos, vinte e duas semanas, 5 centímetros de busto, 7 centímetros de cintura, 3 centímetros de quadril, um capítulo de dissertação, um berço de camping, duas médicas, quatro ultrasons, um pintinho, R$ 00,00, nenhum emprego, duas provas de concursos, nenhum nome, roupinhas fofas, quinhentos nomes, rio de janeiro, trezentas cambalhotinhas na barriga, brasília. SOCORRO.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

lua nova


9 x 4 = 36. Certo? Errado. Na matemática da gestação nem sempre dois mais dois são quatro. Depende, é de lua. Rapidinho reaprendi a somar. Não fosse assim como explicar porque diabos na conta do médico o bebê teria sido gerado naquela viagem que fiz sozinha, um mês antes do teste ter dado positivo? Calendádrio lunar, eis a resposta. Bebê não ganha calendário na virada do ano. Eles se viram com influencias lunares. Daí é que assim como as marés, as grávidas avançam com a lua. Bonito né? Eu acho. Então toda vez que olharem pro céu e verem uma lua nova, sintam-se a vontade para comemorar o aniversário do bebê. Essa semana ele completa o equivalente a vinte luas, o que eu traduzo por cinco meses. Convenções medonhas essas. Quando completar quarenta delas, um pouco antes talvez, é que é chegado os nove meses. Me dá certo pânico imaginar que mal alcançada a metade do percurso, além do horizonte, de concreto apenas enxergo minha barriga. Barriga que já esconde pés, pés que já tentam se mostrar insinuando inchaços. daí ao invés de arribá-los, tenho que mantê-los bem no chão. Aderí-lo a superfície para que o tempo possa correr, mas não voar.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

enfim,

hoje cederam o lugar pra mim no ônibus, mas eu recusei. Estranhei a gentileza e duvidei que fosse pela barriga, devia ser um surto de boa vontade. Até que uma outra senhora mais velha ofereceu-me seu acento. Permaneci em pé, impressionada com o fato inédito de deixar de ser gorda pra ser grávida. Desde que me fantasiei de grávida-almodóvar numa festa na sexta passada tenho experimentado esse reconhecimento súbito. Mas parece que desde então a barriga de verdade quer imitar a postiça. Assim como as portas e os sorrisos se abriam, veio a consagração final, a cereja no sorvete, o pinguim na geladeira: o assento do metrô.

passista de barriga

hoje faz vinte e sete anos que o pai escapuliu da barriga de sua mãe. Vinte e sete anos que ele também foi um feto-bebê, que talvez também ainda nem nome tivesse. Fico imaginando ele lá no casulo de quem daqui a poucos meses será avó: ele já grande, no escuro e entre líquidos, como ele mais gosta. Aquario dentro de peixes. E daí fico pensando como será ser um pequeno na barriga em épocas pré-carnavalescas, e mais ainda, em como será ter um barrigão nesse calor!!! Daí vou agradecendo a cada avanço do meu bichinho, que se mede pelo meu umbigo cada vez mais raso. 'Onde queres quaresma, fevereiro'. Não tem jeito. O fato é que sinto que tenho um pequeno folião aqui dentro, que já vai ensaiando seus primeiros passos no solo da minha barriga. Enquanto ele vai fazendo seu pequeno carnaval, quem entra em extase sou eu. Sentada em frente ao computador este carnaval dá sinais de ser o mais inesquecível desses meus também 27 anos. Por enquanto...

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

é pum, é pé, é um bichinho

dizem que a partir do quarto mês já dá pra sentir o bichinho lombrigando na barriga. Afinal, a essa altura, ele já deve estar com quase vinte centímetros (!!!). Daí por mais que a barriga cresça, o danadinho é muito mais rápido. Resultado: menos espaço pras suas cambalhotas, e mais soquinhos, chutinhos e cabeçadas na mamãe molenga que não alcança seu ritmo.

Fiquei meio assim nesses dias de quarto mês por não sentir nada, só umas pontadas na base barriga. UMAS PONTADAS NA BASE DA BARRIGA! Não, não eram gases, eram as estripulias do bichinho. Dar-me conta, ainda que tardiamente, dessa obviedade ululante me deixou assim, maravilhada, e achando o mundo pequeno também pras minhas cambalhotas mentais.

sábado, 23 de janeiro de 2010

umbigo

Esta é a única fase da vida, acho, em que você é encorajada a viver em torno do seu umbigo. Isso porque o umbigo deixa de ser seu e vira o umbigo do mundo. Esqueça, sua barriga agora é um aeroporto de beijinhos, afagos, e alvo de toda sorte de conjecturas. Aquilo que sempre foi uma parte tão íntima sua, tornou-se área pública. Uma espécie de play de diversão, tamanha é a alegria das pessoas ao deparar-se com ela. Acostume-se, me aconselhavam as mais experientes. Daí invariavelmente vc vai se acostumando. O tempo trabalha sozinho, em outras grandezas.

Sua barriga que ainda nem existe já é maior que vc, torna-se o seu rosto. E vc sai de foco. É uma passagem meio vertiginosa, e as mais desavisadas tremem um pouco com a turbulência. Não se torna mãe no momento da fecundação. Dói um pouco vê-se perdida em si mesma, essa esquizofrenia de desumbigar-se no próprio umbigo. E não adianta aonde vc esteja, gravidez é mesmo uma experiência muito solitária. Mas aí você volta a si, e descobre que a trivialidade disso tudo é de uma beleza tremenda. E que quando se alcança o tempo, sem saber bem como, você é capaz de ver-se tão mais bonita, mais cheia de vida, e, acima de tudo, mais forte.

sábado, 16 de janeiro de 2010

sexo dos anjos


Eu juro que não queria saber. Me dava pânico imaginar um quarto todo cor-de-rosa ou um enxoval com motivos de carrinho. Queria um bebê sem gênero, apesar de sustentar uma certeza anunciada de que seria um menino. Queria a surpresa do parto, à moda antiga. Que o mundo se viaresse em outras cores, queria um bebê bem colorido. Daí veio o pai, com seus argumentos de pai. Que ele queria muito saber, porque já que ele não podia sentir a criança, pelo menos podia saber dela. Assim ela se tornaria para ele mais próxima, mais real. Com uma imagem talvez menos colorida, mas com certeza menos borrada. Bati o pé e disse que eu sou a mãe, que quem decide sou eu. Munida de toda minha autoridade, fomos ao ultrassom e disparei minha palavra final: "qual é o sexo, doutora?" No meio de borrões, ela decifrava o sexo dos anjos. No meio de algo que mais parecia um teste de rorschach, ela apontava um pintinho: "É menino, pode mandar pintar o quarto de azul". Saímos de lá com o sorriso rasgando a boca.

Depois do natal e antes do Natal.


barriga de chop

Tá, eu sei. Faz tempo. Mas é que a barriga não espera inspiração e ela já vai avançando mundos. Quem não me conhecia há alguns meses atrás talvez ainda nem perceba, ou talvez tenha vergonha de perguntar sobre a gravidez, com medo da respostar ser negativa. Já pensou? Pois é, ainda não posso usar os assentos prefenciais do metrô, furar a fila de bancos, etc. Ninguém sede assento pra pessoas que aparentam barriguinha de chops-e-pastel-de-quem-exagerou-no-natal. Dái vou seguindo pelo mundo com meu segredo guardado na barriga: uma pequena revoluçãozinha dando cambalhotas. Mas se aos olhos do mundo minha barriga parece tímida, pra mim ela já tem o tamanho do mundo. Que não é nada pequeno, por sinal. Cheínho, prenhe, de possibilidades.