sábado, 16 de janeiro de 2010

sexo dos anjos


Eu juro que não queria saber. Me dava pânico imaginar um quarto todo cor-de-rosa ou um enxoval com motivos de carrinho. Queria um bebê sem gênero, apesar de sustentar uma certeza anunciada de que seria um menino. Queria a surpresa do parto, à moda antiga. Que o mundo se viaresse em outras cores, queria um bebê bem colorido. Daí veio o pai, com seus argumentos de pai. Que ele queria muito saber, porque já que ele não podia sentir a criança, pelo menos podia saber dela. Assim ela se tornaria para ele mais próxima, mais real. Com uma imagem talvez menos colorida, mas com certeza menos borrada. Bati o pé e disse que eu sou a mãe, que quem decide sou eu. Munida de toda minha autoridade, fomos ao ultrassom e disparei minha palavra final: "qual é o sexo, doutora?" No meio de borrões, ela decifrava o sexo dos anjos. No meio de algo que mais parecia um teste de rorschach, ela apontava um pintinho: "É menino, pode mandar pintar o quarto de azul". Saímos de lá com o sorriso rasgando a boca.

4 comentários:

  1. :D

    "A ave sai do ovo. O ovo é um mundo. Quem quer nascer tem de destruir um mundo." (Hermann Hesse)

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  2. E afinal qual vai ser a cor do quarto do bebê?

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  3. ainda bem que você fez um blog márciana! desde os seus relatos da ilha que eu sou fã ardoroso da sua escrita!
    que maravilha! barato maior acompanhar.

    Arthur
    (esse nome loucão escrevi uma vez pra sei lá o que e é o meu identificador da conta do google, dufkiller, pesado né? ahha)

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